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Foto do escritorLarissa Brasil

Como escrevi meu primeiro livro

Atualizado: 1 de abr. de 2021

Sempre achei que entre as opções daquela famosa frase “plante uma árvore, escreva um livro e faça um filho”, mais cedo ou mais tarde, eu acabaria escrevendo um livro. As ideias sempre fervilharam na mente, eu tinha que depositá-las em algum lugar e fiz isso durante anos, mas nunca com força suficiente para que elas saíssem da mente e se avolumassem no papel.


Em 2013 entrei em um processo de depressão forte. Foi uma longa volta à superfície e a escrita foi uma das razões que me fez emergir e conseguir respirar novamente. A partir daí, o projeto “escrever um livro” se tornou real e, agora, vou compartilhar um pouco da minha história sobre como tirei meu primeiro livro, “A Garota da Casa da Colina”, do papel.


O dilema sempre foi não conseguir terminar uma história. Eu escrevia muito, mas sem nenhum planejamento, sem delinear as personagens, temas e cenários. A ideia vinha em mente e eu batucava meus dedos contra o teclado sem parar, mas não chegava a lugar nenhum. Então percebi que precisava aprender. Meu primeiro curso de escrita criativa foi o do Alexandre Lobão, em 2013, e posso nomeá-lo como um divisor de águas. Se você quer ser um escritor, tem que estar sempre preparado para o primeiro golpe, e esse curso foi o primeiro sacode e o ponto de retorno para mim.


Então aí vai a minha primeira dica:


Estude.

Estude, pesquise e aprenda. Leia livros sobre escrita criativa, sobre o mesmo gênero que escreve e extraia deles conhecimento para enriquecer a sua escrita. Faça exercícios que melhorem suas técnicas, assista cursos on-line ou presenciais, se tiver jeito. Converse com outros autores, tanto do mesmo gênero quanto de outros. Estude seus autores favoritos: essa dica é de ouro. Leia o feedback dos seus leitores e tente não se apegar às críticas. Em vez disso, tire proveito e se aperfeiçoe. Eu ainda fui um pouco além. Em 2015, dois anos após o primeiro curso, ainda não conseguia terminar uma história, assim, decidi pegar aulas de mentoria. No final de 2017, meu livro estava pronto. Posso dizer que a mentoria foi um dos melhores investimentos na minha carreira. Aprendi a planejar, a sair da minha zona de conforto, saber minhas limitações, pontos fortes e fracos e a escrever uma história do começo ao fim. Então, estude e jamais deixe de fazê-lo. Aprimoramento tem que fazer sempre parte da sua rotina. Tire uma ou duas horas semanais para isso.


A segunda é:


Esboce.

Planeje, organize suas ideias, aprenda a tirá-las da mente. Estude o assunto que quer escrever, principalmente se for algo que não domine. Taí uma dica boa. Tente modelar a sua história para algo que você saiba. Caso não seja possível, vá atrás de quem sabe. Nada pior que ler uma história sem nenhum embasamento. Se doe na criação das personagens, são elas que levam o leitor pela mão. Quantas vezes abandonou um livro porque não se interessou pela personagem principal? Planeje os pontos de virada, a estrutura das cenas, as emoções que quer que o leitor passe. Trabalhe as camadas e emoções da sua personagem. Você pode perguntar: “Isso não engessa a história?”. Você sempre pode modificar as coisas, mudar as regras, fazer arranjos, matar uma personagem, pegar outra via, o importante aqui é ter uma visão geral da sua história e não se perder e cair no abismo de travar e parar de escrever. Aprendi tudo isso nas aulas de mentoria e uso essas técnicas até hoje para criar minhas histórias. Então não tenha preguiça, planeje.


A terceira:

Escreva.

Pode parecer ridículo falar para um escritor: escreva! Mas você sabe que não é! Eu tinha medo de escrever e me boicotava. Na verdade, ainda hoje esse sentimento me pega. Todas as vezes que tenho que escrever algo novo, sinto todo espécime de inseto rastejando sob minha pele. É difícil tirar as palavras daquele poço fundo e escuro e colocá-las na superfície, limpas, claras, potentes. E mostrá-las ao mundo é ainda mais complicado. A crítica hoje em dia é tão cruel que, por vezes, pensamos que é melhor sentar-se em cima daquelas palavras que foram tão difíceis de escrever. Não tenho uma fórmula para conter esse medo. Quando ele aparece, imponho uma meta e escrevo exatamente como estou me sentindo, em singelas 50 palavras. Acaba virando uma terapia e uso depois esse sentimento em alguma parte da minha escrita. A dica é: escreva, mesmo que esteja inspirado, pirado, irado… nem todas as palavras vão ser inspiradoras, vai ter dia que você vai amaldiçoar até a sua quinta geração, mas esse exercício vai te fazer caminhar e caminhar, e quando você perceber: pah! Você estará perto do final.

Outra coisa que me pega é a procrastinação. Desse mal eu padeço. Para isso, adotei a ideia do planner rotativo. Primeiro planejo minha semana e depois estipulo horários para fazer cada tarefa. Vou revezando de uma hora a uma hora e meia, com intervalos. As redes sociais são ladras de tempo, mas é preciso usá-las. Com esse método, eu estou conseguindo administrar o meu tempo e fazer render a minha escrita.


Quarta:

Engaje!

Um escritor sem leitor não é um escritor – já li isso em algum lugar. As últimas palavras do meu mentor foram: faça sua plataforma digital, alcance leitores, esteja presente nas redes. As palavras ficaram dançando na minha mente. Eu já entendia um pouco de redes sociais e como elas funcionavam e fui atrás disso. Fiz eu mesma um site, simples e direto. Hoje há várias opções gratuitas e pagas. O intuito é mostrar partes de você lá que as outras redes não têm. Depois me fiz presente nas duas maiores redes sociais (embora hoje eu só trabalhe em uma delas). Você pode ter aversão às redes, mas é o que vai levar seus leitores até suas histórias.

Criei também uma lista vip onde tem material diferenciado, promoções, descontos. Dessa lista, nasceu meu mailing, que é o meu contato com meus leitores. Aqui uma dica importante: não confie em redes sociais, elas não são suas de direito. O Instagram, Facebook e todas as outras podem, sem aviso prévio, cancelar ou suspender sua conta, e você pode perder todo esforço que fez. O mailing é uma forma de manter seus leitores com você, faça bom uso, fale um pouco dos projetos em andamento, e deixe entrevistas, resenhas, descontos e outras coisas que achar relevante sobre o seu trabalho, mas sempre com todo cuidado, sem spam, por favor!

Tem outras opções: canal no YouTube, IgTv, podcast, grupos de leitores no WhatsApp, leitura conjunta do seu livro etc. Mas nada disso terá valor se você não engajar com o seu leitor. Vá conversar com ele, abra espaços para perguntas, responda as pessoas que falam com você. Se for aderir ao mailing, conte coisas legais, escreva para eles, não use apenas como mais um canal de venda, eles se inscreveram porque você é um escritor, então escreva para eles.


Quinta:


Entretenha.

— Não!!!!

Escuto o grito do escritor de longe. E eu rebato: por que não? Hoje disputamos atenção com tantas coisas. É streaming, podcast, redes sociais de todos os jeitos e formas e entre os meios convencionais, tv, radio etc. Não adianta ter uma rede social, engajar e não entreter as pessoas que estão ali por causa da sua escrita. Dica inicial: ache uma forma de mostrar seu trabalho sem precisar sair da sua zona de conforto. Mais tarde você terá que sair, mas, a princípio, faça pequenas ações, mostre como é o seu dia a dia, onde escreve, qual é o seu hobby. Deixe as pessoas conhecerem quem é você. Se você é extrovertido, use isso, se não for, use da mesma maneira. Ache tópicos do seu livro que você possa mostrar para o seu leitor e fazê-lo ter uma conexão com você, fazê-lo querer ler o que você escreve. Não apenas poste foto do seu livro com o famoso: compre aqui! Poste sobre você, as pessoas se interessam por isso, por quem está por detrás daquelas palavras. Entretenha da sua maneira, seja contando algo pessoal ou apenas uma vontade futura. Na era do entretenimento rápido e tão disponível, é necessário fazer bom uso dele. Use-o com ou sem moderação, só você sabe até onde ir.



Por fim, algumas dicas que aprendi nessa vida louca de lançar um livro:

=> compartilhe o que você sabe e aprende. Às vezes a gente erra, erra e erra mais um pouco e usa essa experiência para virar um acerto, outras vezes a gente acerta de cara. Nunca caia no: “todo mundo faz e por isso você tem que fazer também!”. Para isso uso a frase de uma das minhas personagens favoritas, o Morpheus de Matrix: “tem uma diferença em saber o caminho e trilhá-lo”. Nem tudo que falei aqui vai valer para você e, no entanto, pode fazer uma diferença em alguma etapa da sua vida.

=> Seja transparente, não tente ser o que não é, as pessoas percebem, mais cedo ou mais tarde. Eu ainda tenho muito a aprender nesse mundo da escrita, ainda preciso me mostrar mais, escrever mais, aprender mais sobre storytelling e, aos poucos, estou conseguindo fazer isso. Dos rascunhos da “A Garota da Casa da Colina” até a sua publicação foram quatro anos. Não levei tudo isso para escrevê-lo, mas o processo entre planejar, escrever, revisar o primeiro rascunho, decidir entre publicá-lo na Amazon ou custear uma publicação, achar uma editora competente para lançá-lo, editar o texto, revisar, publicar e tê-lo nas minhas mãos levou esse tempo.


Agora volto a escrever. Será meu segundo livro, já com uma bagagem do primeiro, erros e acertos anotados, mas sabendo que vai ser uma nova experiência. Estou preparada, que venha esse novo desafio.



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